quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Lógica (As)Simétrica das Coisas


Perco-me sempre nas voltas e reviravoltas que a vida dá e me faz dar! Perco tempo desnecessário a desmistificar cada acontecimento, cada gesto, cada acto e cada pessoa que se cruza comigo. Desfaço-me em investigações até perceber se o chão que piso é seguro ou se vou dar algum passo em falso.
Estou sempre tão ocupada à procura de respostas para as minhas dúvidas infindáveis e para os meus devaneios sem nexo...sempre a tentar decifrar se aquele ou aquela pessoa é suspeito, culpado ou inocente, que nem me apercebi que existe um planeta de possibilidades, que o mundo não pára, que o tempo avança e que eu tenho de avançar também, sem olhar para trás! Deixar que o passado fique lá atrás submerso no tempo, sem que isso me incomode, viver o dia de hoje como se não houvesse amanhã e não esperar pelo futuro, porque não sei o que isso me irá trazer! E muito sinceramente...também não quero saber!

Sempre me disseram que "tudo acontece por uma razão" e que a lógica das coisas fica para algum físico ou matemático desvendar. Então porque é que eu ei-de querer respostas para quase tudo? Mas porque é que eu só complico tudo aquilo que já de si é simples?

Entender que a vida nos faz mudar de ideias, mudar de opinião e que as coisas são o que são e como são...porque sim! Perceber que o que hoje é mau, amanhã já pode ser bom. Que aquilo que hoje para mim faz sentido, amanhã pode já não significar nada. Que a vida não é perfeita nem simétrica mas que podemos mudar o rumo das coisas se assim o quisermos. Permitir que tudo siga o seu caminho ao sabor do vento...com ou sem lógica...Sim!

Sim! Porque não?

Lado a Lado



Há gente que espera de olhar vazio
Na chuva, no frio, encostada ao mundo
A quem nada espanta
Nenhum gesto
Nem raiva ou protesto
Nem que o sol se vá perdendo lá ao fundo

Há restos de amor e de solidão
Na pele, no chão, na rua inquieta
Os dias são iguais já sem saudade
Nem vontade
Aprendendo a não querer mais do que o que resta

E a sonhar de olhos abertos
Nas paragens, nos desertos
A esperar de olhos fechados
Sem imagens de outros lados
A sonhar de olhos abertos
Sem viagens e regressos
Outro dia lado a lado

Há gente nas ruas que adormece
Que se esquece enquanto a noite vem
É gente que aprendeu que nada urge
Nada surge
Porque os dias são viagens de ninguém

...

Aprende-se a calar a dor
A tremura, o rubor
O que sobra de paixão
Aprende-se a conter o gesto
A raiva, o protesto
E há um dia em que a alma
Nos rebenta nas mãos

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"O que há em mim é sobretudo Cansaço"


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...



Álvaro de Campos

terça-feira, 14 de junho de 2011

Palavras? Leva-as o Vento!

Existem, sem dúvida, muitos tipos de palavras, mas seguramente nenhumas que me façam voltar a acreditar nelas próprias!
Há palavras bonitas que nos tocam, que nos marcam para sempre, palavras que nos movem, que brilham no escuro e no olhar de quem as lê, palavras que nos inundam, que desatam o desejo, o gosto...o beijo! Existem palavras sinceras, sentidas, outras que, perdidas, vagueiam por aí. Palavras que se dirigem a nós, por muito que lhes queiramos escapar, palavras que nos rodeiam, que nos cercam e prendem aqui e ali. No fundo estas são palavras bonitas...apenas isso.

As palavras comuns de quem faz poesia, de quem reinventa formas de viver,de quem regressa sempre um dia, de quem é ilusionista da escrita e deslinda versos retirados do fundo de sonhos. Palvras que servem para fazer sorrir. Foram nestas que deixei de acreditar e deixei de as escrever. Faltava-me sempre a inspiração para colocar as palavras certas no enquadramento perfeito contendo sempre um fundo de verdade...um pedaço de mim.

Mas existe também, como em tudo na vida, o outro lado das palavras. Há palavras que nos magoam, que nos desiludem, que nos desarmam, que nos destroem...que nos matam! Mesmo que não matem por fora, matam pedacinhos de nós por dentro.
Existem palavras capazes de desencadear o ódio, a raiva, a loucura. Palavras que ateiam o fogo da guerra, que alimentam a revolta e a dor, que nos desferem golpes duros, capazes de abrir feridas que demoram anos a sarar.

E com palavras se mente, se ilude e desilude e se magoa alguém. Já não acredito nas palavras! Ou talvez deva dizer que deixei de acreditar em algumas pessoas que diziam certas palavras. Estas não têm culpa de serem ditas ou escritas, a culpa é sempre de quem as usa e de quem lhes dá uso indevido. Talvez seja nas pessoas que eu deixei de acreditar. Não em todas, mas em muitas sim.
Mas as palavras a mim já não me dizem nada! Porque palavras? Leva-as o Vento! E o que é que resta depois disso? Restam as acções! Resta o mau ou bom caractér de quem as pratica!

Já apreciei palavras bonitas, bem como acreditei que estas dizem sempre a verdade, mas enganei-me! Hoje já não me iludo com poemas e palavras bonitas, já não as vejo brilhar no escuro nem as sinto no meu olhar como outrora senti.
E o que me resta então? Resta-me esperar que a inspiração me invada e que as palavras não fiquem perdidas nem por dizer. Resta-me escrevê-las, ainda que nem sempre elas transmitam tudo aquilo que estou a sentir.

Resta-me esperar que as palavras me encontrem e que voltem cheias de verdade e de honestidade....

porque...Palavras Bonitas?

Leva-as o Vento!