sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Contemplo...

Contemplo...apenas contemplo...

Era possível ficar horas a falar do que uma imagem nos transmite.
Era fácil descrever o que observo.
Era complicado falar sobre uma cidade...aquele que nos diz tanto e tão pouco sobre nós.

Por estas razões e mais umas quantas que não sei, ao certo, dizer...contemplo...e apenas vou contemplar!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Devaneio Brusco da Noite Nublada



Não me apetece divagar.
Já me cansa, por vezes, escrever.
Sentir? Já nada sinto.
E quanto mais escrevo, menos minto, e não nego que
Fico sempre com tanto por dizer...

A noite alta e nublada contribui para o meu brusco devaneio. Fazia perícia com palavras e passava rápido o tempo, até ao novo dia alheio.
Inundavam-me a alma de promessas e o meu espírito serenava. Talvez fosse, apenas, a ideia inquieta, que brevemente, me acalmava.

Os companheiros do costume, sempre lúcidos, sempre presentes e sempre sãos, estavam comigo e não desistiam. Nem por nada se desistia. A amizade? Essa, não falhava. Sempre lá comparecia.
E se por momentos alguém duvidava? Vinham logo todos confirmar....era apenas poesia.
Poesia tento eu fazer, pelo menos dia após dia, já que os companheiros se afastaram, fico eu e apenas eu por companhia. MAS...

Nunca ninguém disse que os dias eram nossos.
Ninguém prometeu nada.
Fui eu que julguei que podia arrancar, sempre, mais uma madrugada...
Nunca ninguém disse que o riso nos pertence.
Ninguém prometeu nada.
Fui eu que julguei que podia arrancar, sempre, mais uma gargalhada...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

"Deixas Em Mim Tanto De Ti"


"A noite não tem braços
Que te impeçam de partir,
Nas sombras do meu quarto
Há mil sonhos por cumprir.


Não sei quanto tempo fomos,
Nem sei se te trago em mim,
Sei do vento onde te invento, assim.
Não sei se é luz da manhã,
Nem sei o que resta em nós,
Sei das ruas que corremos sós,
Porque tu,

Deixas em mim
Tanto de ti,
Matam-me os dias,
As mãos vazias de ti.

A estrada ainda é longa,
Cem quilómetros de chão,
Quando a espera não tem fim,
Há distâncias sem perdão.

Não sei quanto tempo fomos,
Nem sei se te trago em mim,
Sei do vento onde te invento, assim.
Não sei se é luz da manhã,
Nem sei o que resta em nós,
Sei das ruas que corremos sós,
Porque tu,

Deixas em mim
Tanto de ti,
Matam-me os dias,
As mãos vazias de ti.

Navegas escondido,
Perdes nas mãos o meu corpo,
Beijas-me um sopro de vida,
Como um barco abraça o porto.

Porque tu,
Deixas em mim
Tanto de ti."

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Agora já é Tarde!

"Agora já é tarde
Não tem depois nem antes
Nem planos nem bagagens
O mundo só mudou de cor

Durante a tempestade
Relâmpagos distantes
Revelam a passagem
Da escuridão para o esplendor

O tempo é tão covarde
E ao mesmo tempo criador

Se o fogo ainda arde
Nos corações gigantes
Faz parte da paisagem
A labareda do amor"

No início tudo bate certo. Tudo acaba por fazer sentido.
A meio damos asas à imaginação e descobre-se um mundo para lá do limite dela. O vento sacode as migalhas de duvidas que possamos ter e o sol dá-nos a força e confiança de que necessitamos para levar a cabo mais um dia, mais uma réstia de esperança, mais fé em nós e mais e cada vez mais expectativa.

Depois....bom, depois vem o fim de tudo. Vem a conta de somar que todos odeiam....
Demasiada Expectativa + Excesso de Ilusão = Profundo Desalento.
E a culpa apodera-se das gentes, que nada fez antes do tempo terminar com tudo, e romper terra firme e rasgar o chão que pisamos diante de nós.


Mas....Agora já é tarde!

sábado, 8 de agosto de 2009

Sinfonia do Silêncio Nocturno



Resvala sobre mim uma noite iluminada, calma e silenciosa, não triste mas nostálgica. Paira no ar o som do silêncio que me embala num sono que não tarda em chegar. O relógio marca 5 minutos de tardar 2 horas da madrugada e eu sou inspirada pelo reflexo da Lua cheia no mar e pelo meu próprio reflexo esbatido nas estrelas que me tocam e me levam a viajar (quase sem sair do meu lugar), por nuvens e esboços traçados, num papel branco, a tinta, suave, azul.
O cheirinho a maresia inunda-me o espírito, conforta-me a alma e quase me leva a naufragar do longe que está que eu teimo e tento e não consigo lá chegar...

Deixo, de repente, de pensar no mundo. Deixo de pensar nos meus próprios pensamentos. Deixo de pensar na simetria e na assimetria das coisas e foco-me apenas nesta noite, no aqui e no agora. Amanha tudo é vago e incerto e o tempo não me prende para pensar nisso.
Estou num momento em que me cansa quase tudo. Cansa-me pensar, cansa-me dormir, cansa-me acordar...Cansa-me a simples ideia de cansaço e sobretudo cansa-me cansar-me. Não entendo porquê tanto cansaço se nada do que faço ou penso é assim tão cansativo..Quase que estou perdida em tudo aquilo que sou e no cansaço do que fui e da ideia daquilo que pretendo ser e que ainda não sei o que será.

Pudesse, nesta noite, a sinfonia deste silêncio inspirar-me, trazer-me tudo aquilo que me falta e completar-me como outrora já me senti....

As palavras fogem-me tal como os meus dias, que lentos, urgem rapidamente de mim, dando origem a noites singelas mas sentidas como esta em que digo Adeus ao desejo que me fica(ficou) de ir atrás de ti, de um tempo bem investido, correr universo fora, perder estrelas, constelações, quem sabe até Planetas e levar-me contigo....

É estranho sentir, ao contemplar o horizonte incerto, nos meus olhos, uma expressão de nostalgia que me leva a viajar ao passado - relembrando-me de tudo o que findou, de tudo aquilo que ficou e de toda a nostalgia que sinto ao pensar em todos aqueles que comigo se cruzaram – visualizar o presente com a ternura que cabe ao dia de hoje que ainda há pouco se finou e imaginar cegamente o que o “amanhã” me trará. Ao fazer esta “viagem” apercebo-me de que escorrem em mim, suavemente, quentes e salgadas, lágrimas, provenientes talvez de tristeza, talvez de nostalgia, talvez de amargura ou desalento, talvez de ódio ou quem sabe de outro, qualquer, sentimento. Ou quem sabe talvez de coisa alguma, talvez sejam provenientes apenas da contemplação do horizonte longínquo ou apenas da noite paisagística que me assolou…

Ah pudesse o relógio levar-me para longe do tempo, roubar-me o infinito, trazer-me alento à madrugada…Pudesse a sinfonia do silêncio inspirar-me, trazer-me tudo aquilo que me falta e completar-me como outrora já me senti…

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ABSURDO




Tornarmo-nos esfinges, ainda que falsas, até chegarmos ao ponto de já não sabermos quem somos. Porque, de resto, nós o que somos é esfinges falsas e não sabemos o que somos realmente. O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios. O absurdo é o divino.




Estabelecer teorias, pensando-as paciente e honestamente, só para depois agirmos contra elas - agirmos e justificar as nossas acções com teorias que as condenam. Talhar um caminho na vida, e em seguida agir contrariamente a seguir por esse caminho. Ter todos os gestos e todas as atitudes de qualquer coisa que nem somos, nem pretendemos ser, nem pretendemos ser tomados como sendo.

Comprar livros para não os ler;
ir a concertos nem para ouvir a música nem para ver quem lá está;
dar longos passeios por estar farto de andar e ir passar dias no campo só porque o campo nos aborrece.



Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Levas-me?


Mergulho na madrugada que não me deixa dormir. Traz-me sonhos e ilusões e eu deixo-me levar, não consigo dominar tudo aquilo que estou a sentir e deixo-me ir ao sabor do vento…voo por cima das minhas teorias e ideias, abarco comigo tudo o que me faz sentir bem e tudo o que me importa e saboreio cada palavra que escrevo. Respiro mais e mais fundo, pois a leve brisa que passa dá-me alento e talvez até inspiração para o que rapidamente “salta” dos meus olhos para esta folha de papel.

Trata-se de um “Assunto Pendente”- se é que assim lhe posso chamar - é um mistério o que sinto…não o sei definir, muito menos o sei explicar. É um murmúrio baixinho de uma antítese de sensações, de sentimentos misturados, de meras suposições em acasos e tudo isto gera em mim um turbilhão de confusões.

Traz-me dúvida e incerteza. Traz-me monotonia e saudade, traz-me um misto de coisas. Está dentro de mim e ao mesmo tempo tão distante, é um planeta de coisa nenhuma que eu tenho medo de revelar e sei que posso, mas não quero, jamais, arriscar.

Será sonho ou Realidade? Ficção ou Fantasia? Será mentira ou verdade? Ou será apenas Ansiedade?

Sinto que existe um muro que separa aquilo que quero daquilo que posso, aquilo que posso daquilo que não devo, aquilo que sinto com aquilo que não posso nem devo sentir e aquilo que eu sei que existe e que eu insisto em que não deva nem possa existir.

Leva Pedaços de Mim a cada dia que passa e deixa-me apenas as minhas Palavras Perdidas, num espaço perfeito, num tempo oportuno e vago e deixa cada vez mais a marca do “nada” e do silêncio gritante que passa por mim, cada vez mais devagar. É um sentimento que não me contenta e que descontente se apodera de mim, ao mesmo tempo que me vai dizendo, dia após dia, sem que ninguém se aperceba, que me vai abandonar. Como que uma cidade fantasma perdida no meio do mar….

Então se nada disto fez sentido,
Se nada disto faz sentido,
Se nada disto irá fazer algum sentido….

(não posso prever nada, nem agir perante o que se destina ao nada que é Tudo [que pode até valer a pena], que me prende e obriga a ficar…)



Então…Levas-me?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Perfeito Vazio

O tempo que se perde pela vida fora...
O tempo que gastamos em desilusões de memórias deixadas ao abrigo do passado...
O tempo que se inventa quando nunca se é capaz...
O tempo que desperdiçamos, mesmo quando sabemos que este nunca volta atrás.

Matamos a vida!

Viajamos em nós à procura de quem somos com a base de quem éramos e tentamos descobrir quem um dia iremos ser. Mas acabamos por nos perder ainda mais, misturando, assim, o passado, o presente e o futuro.

Abarcamos connosco a raiva de um mundo, o ódio das gentes, o desespero dos outros. Juntamos-lhe o rancor e assim se esquecem os Amigos, se esquece a Família, se esquece quem realmente importa! Guardam-se memórias, vãs, a sete chaves, de um tempo que o próprio tempo se encarregou de fechar.

Matamos a Vida!

Destruímos o mundo. Destruimo-nos a nós próprios. Destruímos os outros. Matamo-nos com Guerras e lutas ridículas. Estabelecemos Políticas inúteis, criam-se protestos, cria-se a revolta, vê-se a miséria acumulada, aqui e ali...emocionamo-nos por ver o estado degradado das coisas, dos dias, das horas...de tudo.

Matamos a Vida!

Queixamo-nos sobre isto e sobre aquilo mas não fazemos nada, absolutamente nada a não ser criticar, apontar o dedo e falar, falar....Mas palavras leva-as o vento e é preciso agir, fazer alguma coisa e ir mais além.

Matamos a Vida!

Vivemos em vão, num vazio constante. Vejo um mundo perdido e afundado, vejo interesses e intrigas, discussões e mentiras, sobretudo reina a Ilusão. A Ilusão de que tudo é nosso, a ilusão de que tudo está bem e bem continuará a estar, a Ilusão de viver numa Utopia, a Ilusão de que temos connosco pessoas perfeitas. Tudo se resume a Ilusões e tudo se resume à Humanidade, já que são os humanos os "comandantes" do Planeta e assim, os responsáveis pelas coisas boas e também pelas más.

Matamos a Vida por nada, damos nada por tudo e tudo se resume a um Perfeito Vazio!

terça-feira, 12 de maio de 2009


"Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça..." Fernando Pessoa

"Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como realmente são - como são para os outros" Fernando Pessoa

"E se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto." Fernando Pessoa

"Pois o silêncio não tem fisionomia, mas as palavras muitas faces."

"Então viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida."
Fernando Pessoa

"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre." Miguel de Sousa Tavares


"Esta Verdade não pertence a ninguém mas tão somente a quem seja capaz de a entender."

sexta-feira, 13 de março de 2009

Pudesse Um Olhar...


Pudesse um olhar transmitir tudo o que sinto
Pudesse um olhar descrever tudo o que vejo
Pudesse um olhar desvendar o horizonte e o infinito
Pudesse um olhar dar-me muito mais do que aquilo que desejo...

Ah... pudessem os meus olhos, sempre, falar por mim e quebrar a névoa que há entre mim e o espaço.
Sinto ao longo do tempo o desgosto, preso e acorrentado, no rosto de gentes que passam, diariamente, por mim. Cada olhar uma mágoa, uma tristeza, uma angústia, uma dor, uma lágrima, uma tremenda inquietação, uma ferida que não foi curada, um ressentimento, uma raiva acumulada, um ódio eterno, um veneno que não mata mas corroí, um fundo sinistro, um pensamento distante, outros são apenas olhares vazios dentro de mentes profundamente desarrumadas e confusas e são poucos os olhares satisfeitos e felizes que se cruzam com o meu.

O sentimento de afundar, de crise e de não ter motivos para sorrir está cada vez mais presente nos olhares de tanta gente...isso estraga, mata por dentro, destrói....não mata, mas moí!
Devia um olhar poder mudar todos os outros, mudar mentalidades, corrigir erros e atrocidades...devia um olhar poder levar-nos a utopias, dar-nos tantas fantasias quanto muitos querem e desejam, um olhar deveria bastar, devia ser o suficiente para um dia te poder tocar.

Se um dia eu poder ir ao fundo dos teus olhos encontrar o meu olhar perdido e conseguir ver aquilo que vês, sentir tudo aquilo que sentes quando observas o mar e tentas perceber o infinito...quando me tentas encontrar para lá de onde as estrelas se afundam. Se um dia vir o teu olhar numa noite perdida como esta e mudar tudo aquilo que sinto, fazer o tempo voltar atrás, trazer o passado longínquo e encontrar-me, encontrar-te, viver, sorrir no teu sorriso, entrar no teu estranho mundo e flutuar suspensa...no teu olhar!
Pudesses olhar para mim e sentir-me...
Pudesse um olhar mudar o mundo!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Viagem à Terra do Nunca


Começa com uma manhã cinzenta, com um toque, com o despertador. Não há planos nem agenda, não há viagem, não há carro nem condutor. Só o horizonte, o infinito e o seu esplendor!
Espreito pela janela, não há sol, é cedo e vou devagar. Saiu para a rua quase sem destino, numa partida sem hora para chegar.
Lentamente caminho e vou...sem pressa, sem horas, só eu e só a minha companhia. Na mente tenho o espaço idealizado, o percurso (mesmo sem saber se é o certo ou o errado), e as gentes que não vou esquecer nunca, que não saem da cabeça, que estão gravadas devido à marca que deixaram, quase sem se aperceber. Então continuo caminho e dá-me gozo pensar que não estou sozinha, que ainda estão todos comigo...eternos amigos, eternas memórias, eternas companhias, eternas glórias e..unicamente disso se trata, de recordações eternas...mais nada e nada mais!
Continuo a viagem e com a distracção dos pensamentos, esqueci-me por breves momentos do que percorri e de que forma cheguei até aqui. Sei no entanto que estou perto, que falta pouco e que estou quase a chegar.
Por entre frases, palavras, letras, horas, minutos e segundos, rimas suaves, ritmos leves, reflexos, luzes, gritos, risos e pequenas outras coisas...tudo faz eco dentro da minha cabeça por esbarrarem uns nos outros sem saberem em que gaveta se arrumar. Sinto que estou confusa e que nem um mapa me consegue guiar-me na rota correcta.
Mais um passo, mais um minuto, mais uma expressão sinistra, mais um olhar vazio e eu que não encontro um atalho para lá chegar.
Já cansada do duro caminho e de tanto que percorri...finalmente encontrei o que procurava! A Terra do meu sonho, a Terra (da noite perdida e deserta) onde quero ficar, se não for para toda a eternidade, que seja para sempre enquanto eu aqui quiser ficar!
Nesta Terra encontrei dias quentes de Sol, sorridente, noites longas e profundas, encontrei a Paz que só aqui poderia encontrar. A ponte que imaginei, as casa velhas em volta, as janelas cor de prata, os jardins em volta e o gigantesco mundo feio à escala da minha modesta imaginação que por muito que queira não consigo encontrar palavras para a descrever!
Quero apenas mais tempo aqui, mais uma noite, mais um passo, mais um momento que dure para a eternidade, mais disto, mais daquilo, mais, mais e mais disto e daquilo e de tudo o resto...
Uma coisa é certa...eu estava a sonhar! No fundo a ilusão do meu sonho falou mais alto e eu deixei-me levar! Tudo isto não existe na realidade. Não passou tudo de uma noite; uma noite em que quis fugir de tudo, em que talvez tenha pensado esquecer quem sou, quem quero ser, uma noite em que me quis refugiar bem longe do meu mundo e caminhar na direcção de uma Terra fantasma que nunca existiu!
Acordo!
A luz da noite encandeia-me e mostra-me a dura realidade que não quero ver. Dali a horas é mais um dia que começa, a mesma rotina...os mesmos planos...Não tarde anoitece e talvez eu volte a "fugir", um outro sonho, uma outra viagem e mais uma Terra perdida e do Nunca...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Sem Regresso!


"Nunca quis saber nunca quis acreditar
Que eu iria partir não podia cá ficar...nunca quis escutar muito menos quis ouvir
O meu silêncio que avisava a intenção de não voltar
Podes crer
Bem que me disseram para nunca me agarrar a uma pessoa...a um lugar
Podes crer
Queria ver queria saber
O que fazias tu que estás aqui a observar
Tás a ver tás a perceber
Pode ser que um dia a gente volte a se encontrar
Agora embora, agora sem demora
Deixa-me ficar aqui sozinha p’ra pensar
Embora agora que a minha alma chora
Como disse alguém
Vou-me perder para me encontrar!"
.....
Fui sem me despedir
Sem dar qualquer justificação
De armas e bagagens...
Com malas de cartão
Sem medo de partir e Sem hora nem dia para regressar
E assim...
Fui pra te esquecer...fugi pra não te poder (voltar a) perdoar!

Uma Questão de Hábito



Habituei-me ao escuro da noite como pano de fundo
ao som do silêncio,
à vista para o mar,
às luzes ao longe
à monotonia do luar...

Habituei-me a contemplar a madrugada muda! Abro a janela e procuro pelo ar, fresco, que me incentiva a pensar, que me cativa todas as noites fazendo-me respirar. Fecho os olhos...respiro fundo, lentamente, cada vez mais lentamente, ouço o bater do meu coração e penso que não quero ouvir mais nada, nem sentir, nem tocar, nem fugir, nem ficar assim...só quero ouvir no redor do silêncio...a minha, morta, pulsação!

Habituei-me à perfeita simetria do papel em branco, da caneta azul, sempre em harmonia à mercê da minha escrita, do meu desabafo tardio, da minha vaga inspiração...vazia.
Habituei-me ao hábito de escrever o que sinto, transmitindo sempre aquilo que vejo, que escuto, que penso, o que saí quase por instinto.

Habituei-me ao gozo que dá brincar com as palavras, com rimas, com versos, com adjectivos, a escrever quando preciso de esclarecer comigo aquilo que se passa; quando não me sinto eu...quando a vida me leva a pensar, quando o tempo é mais covarde do que salvador, quando tráz mais amarguras do que um bom sabor, quando a dúvida se instala, quando o medo e a raiva se juntam ao ódio, ao ciúme, ao desespero, à dor...quando tudo é falso (até o chão que piso), quando os sonhos são pequenos de mais para voarem sem mim, quando o desamor e o dissabor de tantas lembranças, saudades e recordações me deixam a olhar para a lua com desalento, com lágrimas confusas que escapam lentamente dos meus olhos...quando preciso de passar tudo isto para um papel.

Habituei-me a viver um dia de cada vez, sem planos nem tarefas nem para agora, nem para amanha, nem para depois. Sem saber o que vou fazer em cada dia seguinte, sem riscos a correr, sem desafios para enfrentar...sempre a mesma monotonia, o mesmo objectivo, a mesma cor, a mesma solidão, a mesma companhia..a minha e só a minha. A mesma saudade..de mim, de ti, dele, dela, deles, delas, do mundo todo..de todos os que tenho saudades.

Habituei-me a todas estas coisas e a tantas outras a que os últimos meses me têm ensinado a habituar...é monotono? É! Mas é calmo, é simples...foi a isto que me habituei...a uma questão de hábito!

domingo, 18 de janeiro de 2009

Começar Outra Vez

É tarde! É muito tarde e não consigo dormir!

Ao longe a lua e a madrugada, serena e calma... iluminam num breve reflexo estas palavas rascunhadas à pressa num rasgo súbito de inspiração, vinda da alma, que o vento gélido leva num sopro vago...se assim o quiser!

Procurei em silêncio na minha vaga inspiração, mas nada saía, mas nada do que escrevia fazia sentido...então esperei, quieta e fria, que chegasse o tal momento, pra lá de onde o mar rebenta, que me trouxesse o que tanto procurei.
Contextualizei o que guardei meses a fio, o que sabia existir mas não queria escrever nem descrever e cheguei então à conclusão de que faz parte começar tudo outra vez, faz parte sentir o mundo de novo, faz parte partir e voltar, ganhar e perder, ir e vir...depressa, devagar...despir o medo..fugir de tudo, amanhecer cedo...olhar pela janela e sentir que não é preciso correr, que não é urgente chegar...o que é preciso é acordar...o que é preciso é viver!

Não sei bem quem sou nem o que quero fazer,
que caminho tomar,
que rumo vou seguir,
que medos abandonar,
de que toca fugir...
que margem devo levar pra longe,
que sonhos perseguir e voar sentindo o vento seguir.me, tocar-me, levar-me para onde precisso de ir...até te encontrar, até me encontrar a mim...até rever todos aqueles que fazem parte do que sou..eles que tanto sabem de mim, de quem guardo e acumulo um mundo inteiro de saudades, de sorrisos e de glórias conjuntas que sei que um dia vou voltar a reviver; até reencontrar o meu mundo perdido, até regressar ao passado para ir buscar o meu futuro; até conseguir limpar da minha memória quem alguma vez feriu graves sentimentos inundados de coisas quase perfeitas, levadas para onde o mar rebenta ao longe...no infinito; até conseguir alcançar os meus limites mais elevados...onde nenhuma vertigem consegue chegar...até o encontrar e lhe pedir que me abrace e que me leve p'ra lá do tempo....p'ra lá do universo...p'ra lá de cada peça de que é feita uma viagem de cartão!

Deixo-me assim levar por leves brisas de palavras que me trazem a sensação de que estou a começar de novo, a vaguear por pensamentos meus, a viajar na minha ilusão...a brindar sonhos ao relento como quem junta os pedaços entre a loucura e a razão...